domingo, 9 de outubro de 2016

Aonde foi que nos perdemos?



Faz tempo que não escrevo nada por aqui. Uma conjugação de fatores influenciaram para que isso acontecesse: trabalho, stress, falta de tempo ou ainda falta de inspiração. Mas nada é mais importante que a incapacidade que tenho de transcrever em textos todas as experiência que tenho vivido em relação aos filhos. 

Lembro que hoje Bernardo conta com 4 anos de idade e Martina com 2. De forma que, ainda, por bem pouco tempo, temos dois "bebês" em casa, em que pese essa concepção em alguns casos já não se aplique mais ao B., que tem me saído com cada uma...

Olhar para eles tem sido um exercício de reflexão. É impressionante a noção espacial e temporal que eles tem sobre o mundo e a visão única de interpretação dos fatos de suas vidas.

Não são raras as vezes em que admirá-los se transforma num instante de poesia pura. 

E é nessa observação que me questiono aonde nos perdemos. Em que momento das nossas vidas, deixamos para trás a capacidade de rir de nós mesmos nas situações mais ridículas possíveis. Em que curva deixamos para trás nossa honestidade e sinceridade? Porque perdemos a capacidade de pedir desculpas

Dia desses fomos deixar Bernardo no colégio quando a coordenadora do turno integral nos chamou para conversar. Entramos na sala e a autoridade desabafou: Bernardo deu uma pedrada num colega. Na mesma hora pensei que estava falhando na educação dele. Me veio a cabeça a falta de tempo que tem me acometido nos últimos meses, justificado no excesso de trabalho em busca de dinheiro para ter mais tempo para ficar com eles (aliás, comportamento que outrora já criticou Mujica, ex- presidente do Uruguai) Pensei que o preço que estava pagando, era o de ter um filho marginal, voltado para a violência e revoltado. Foi como ter um pesadelo em um milésimo de segundo... Dito isso, a coordenadora explicou: Mas foi sem querer. Estavam os dois brincando quando a pedra escapou e atingiu o colega. Mas o Bernardo foi exemplar! Ajudou, pediu desculpas e ficou na sala esperando a mãe chegar para levar o amigo para o hospital. Ainda segurou a mochila dele o tempo todo para que ele não fizesse força...

Preciso dizer o tamanho do meu alívio? 
 
Porque perdemos isso? Que força invisível é essa que nos torna cruéis, vaidosos e egoístas? Seculpa do sistema? Mas esse sistema não é formado por indivíduos? Há, inegavelmente, algo de muito errado no mundo.

Martina não pode ver ninguém chorando que pede desculpas. Mesmo que ela não tenha feito absolutamente nada, basta fingir o choro que ela vem com um abraço e o pedido de desculpas: diculpa papai, não chora... Não importa pra ela o que houve, mas sim o que ela pode fazer para que o sofrimento daqueles que ela gosta, passe. 

Hoje tenho a impressão que meu papel de pai ganha outras atribuições na medida em que meus filhos vão vivendo e evoluindo tornando a função cada vez mais complexa. Hoje, mais do que educar, tenho que fiscalizar para que esses valores não se percam por aí e permaneçam para sempre acompanhando a conduta deles. 

Talvez assim, consiga enxergar aonde foi que perdi isso tudo e consiga me indignar um pouco menos com esse mundo...

 

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