domingo, 28 de outubro de 2012

Os filhos não vem, eles vão...

Sempre fui ansioso em relação à paternidade. Eu sabia que tinha nascido para ser pai. Mas hoje percebo que esta meta estava abaixo de vários outros fatores que sempre vinham em primeiro lugar: dinheiro, estabilidade profissional, viagens para fazer, festas, etc.

Para quem não acompanha o Blog, saiba que o Bernardo não foi programado. Pelo contrário, cogitava sua vinda apenas depois de cumpridas as tarefas acima declinadas.

Hoje, com ele percebi entre diversas outras coisas que a paternidade nos revela, mais uma lição de vida. Pergunto: o que de fato nós fazemos para concretizar nossos sonhos? 

Ora, se meu desejo era ser pai, não precisava super-valorizar outras condições que me pareciam empecilho para tanto. Tudo se encaixa. Você consegue o dinheiro que precisa (ou consegue viver bem com o que tem), percebe que é mais estável profissionalmente do pensava ser e que viagens e festas simplesmente deixam de ser a coisa mais importante que você tem vontade de fazer. O melhor: não dói absolutamente nada! 

Uma bela noitada com direito a ressaca no dia seguinte, cede espaço para que você levante cedo numa manhã de sábado ensolarado e vá andar de bicicleta com seu melhor amigo. Lembro que quando pensava em ser pai, esse programa era a personificação do ápice de felicidade que se podia sentir tendo filhos. Só não sabia que seria tão melhor do que imaginava. Este foi um, dentre vários, dias perfeitos. 

Recebo muitos relatos de pais que encontram no blog um certo conforto para seus "dramas pessoais". Um que corriqueiramente aparece é exatamente sobre ainda não ser o momento certo. Tudo que escrevo no blog, tem a ver com minha impressão acerca da paternidade. São relatos e confidências pessoais sem a menor pretensão de angariar seguidores ou de servir de verdade absoluta acerca desta jornada. Mas não posso deixar de ficar extremamente feliz quando leio comentários de pessoas que se identificam com o que penso. Então aqui vai um conselho: TENHAM FILHOS! Esse papo de "não é a hora", nada mais é do que seu medo de perder o que você tem e se atirar de braços abertos no desconhecido. Claro, digo isso partindo do princípio de que você esta com a pessoa que ama e tem a mínima possibilidade de manter o filhote. O resto, festas, viagens, falta de tempo, são secundários. Me atrevo a dizer que diversos fatores da sua vida, inclusive seu relacionamento com sua mulher, podem melhorar bastante com a gestação. 

Ter um filho, nos ensina muitas coisas acerca de nós mesmos. Talvez você não esteja pronto para enfrentar a si próprio. Nossos filhos nos enxergam nus. Para eles não interessa se você não é o Messi do futebol, o cara mais popular da turma ou artista de cinema.  Nada do que você vista, tenha ou dê à eles valerá mais que um passeio de bicicleta no parque. Mas uma coisa eu garanto: nenhum dia será igual ao outro.  E quando você acordar numa manhã qualquer, chegar no berço e dar de cara com seu filho, de pé, brincando e rindo com o pacote do brinquedo que ele ganhou da avó, neste dia meu amigo, você vai me dar razão por tudo que escrevi aqui e vai perceber que a felicidade que você tanto queria, (e que achava que tinha nas viagens, festas e no saldo bancário), está ali, de graça sem lhe pedir um tostão sequer. Este é o verdadeiro valor...

Dia desses, Bernardo que já "rastinha" (misturar de engatinhar com rastejar) pela casa precisava comer seu tradicional iogurte do meio da manhã. Eu arrisquei chama-lo pelo nome e ele não só virou para mim, como veio em minha direção. Era mais um desses dias comuns que simplesmente se tornam inesquecíveis. Mas algo mudou meu entendimento sobre todo o processo parental. Posso estar louco, e acreditem, gostaria, mas acho que descobri algo muito legal. Nós já paramos para pensar que ser pai é estar constantemente se afastando dos filhos? Vejamos: a criança é gerida dentro da barriga da mãe, correto? O que vem depois? Ela nasce, ou seja, ela sai de dentro para o mundo exterior aonde encontra o pai. Então, ela precisa estar ou no colo, ou dormindo nos primeiros meses ao menos. Com o tempo, ela já não precisa que você a fique carregando para todos os lados, basta chamar ou mandar. Aos poucos ela vai ganhando autonomia de vôo e segue seus próprios passos. As primeiras palavras começam a aparecer e você já não precisa ajudar para saber o que ela quer até que ela faça as próprias escolhas. Depois começam a escolher seus brinquedos, suas roupas, aonde querem ou não ir, o que querem ou não fazer. Logo, eles farão programas diferentes dos seus e começarão as viagens e as festas. Chegará a faculdade e as namoradas. Depois da profissão vem a autonomia financeira e nem mais pedir aquela grana do final de semana eles precisarão. E assim será o resto da vida... Incrível não é mesmo? 

Então amigos, repito o título deste post: os filhos não vem, eles vão... e o que fica é a saudade que, segundo o poeta, é o rastro que a felicidade deixou.


Fico por aqui, 

Paizão. 

P.S.  Revelo que fiquei bem triste com essa minha constatação... mas isso fica entre nós, ok?